quinta-feira, abril 24, 2008

Sem preço




Um senhor, que supostamente é vendedor e vive aqui pelos arrabaldes de Lisboa diz que o 25 de Abril é um dia de luto. Diz que a PIDE não é nada do que pintam. E que na altura é que havia liberdade, e não agora. O senhor diz que, e passo a citar, “… na altura é que havia liberdade, só não podia é dizer mal do governo, de resto podia dizer o que me apetecesse.”, e o senhor estava mesmo falar a sério, apesar de parecer uma piada.
Quanto à PIDE, eu gostava de apresentar este senhor a muitos homens da minha terra que estiveram presos no Tarrafal, e trabalharam nos lanifícios antes do 25 de Abril. Ele ia ver o que era a PIDE.
Acho até irónico o facto de alguém que acha por bem o não se poder dizer mal do governo e do que se passava país, vir para um programa de tv dizer mal do país. De qualquer forma tenho uma ideia para que possa voltar a ter a liberdade de antigamente, o senhor ficava caladinho e fazia de conta que não podia falar sem ser preso, relativamente ao resto pode dizer o que lhe apetecer. É como viver no tempo do Salazar. Que tal?

Com o tempo a passar é cada vez mais difícil dar o devido valor e perceber o que foi e é o 25 de Abril para nós. Para a minha geração já o é, mas para quem é agora adolescente o 25 de Abril não passa de um feriado a quem os avós parecem dar mais importância do que realmente tem. Gostava que alguns pudessem ouvir das vós dos próprios pais o que eles passaram antes do 25 de Abril, como eu ouvi, saber o que se sofria e não se dizia, o que se via mas que se calava.

A liberdade não tem preço.


1 comentário:

Catarina disse...

Estou totalmente de acordo contigo, apesar de teres generalizado um bocado.
O meu bisavô materno era um pastor, mas era comunista. E sabe Deus o que ele passou, para fugir à PIDE.
Toda a familia se sentava à sua volta para o ouvir, qual contador de histórias. Mas as histórias que contava, retratavam uma realidade dura, que os meus pais ainda viveram até aos 14 anos.
Talvez porque fui sempre muito agarrada à tradição familiar e por gostar imenso de História, nutri sempre um enorme respeito por quem viveu naquela altura e, principalmente, pelos estudantes universitàrios, os primeiros a perceber que não podia continuar assim.

É verdade que hoje em dia, muito poucos dão valor ao 25 de Abril. Mas eu, que aqui longe só tenho possibilidade de o viver através das noticias online, contribuo para o "não esquecimento" deste dia, ouvindo a grande voz do mestre Zeca Afonso e agradecendo às pessoas que permitiram que as gerações seguintes vivessem num país livre.