Crise e futebol

Parece que há muitos portugueses indignados, e eu, sendo assim, também fico muito indignado. Sim, porque eu não sou menos que os outros.
Alguns portugueses ficam extremamente indignados por causa da selecção e da loucura que se vive à sua volta. Do facto de as pessoas ficarem eufóricas com as vitórias no campeonato europeu, indignadas por causa das bandeiras e os cachecóis. Irrita-as o facto de nem todos chorarem lágrimas constantes por causa do estado em que o país está.

Isto indigna-me.

Não só porque algumas das pessoas que fazem essas críticas são as que enchem constantemente o depósito de gasolina, e independentemente do preço a que esteja não deixam de fazer um quilómetro por isso, mas também porque não por não se festejar um jogo de futebol que se sente mais ou menos um problema muito mais geral.
É mesquinho apontar o vizinho do lado porque ainda ontem se estava a lamentar por causa do preço de tudo e hoje, como se nada fosse foi festejar com a mulher vestida com a bandeira e os dois putos para o Marquês de Pombal. Não só o cú nada tem a ver com as calças, como é extremamente redutor pedir que se fique triste só porque sim.
Os problemas lutam-se dia-a-dia, com acções dirigidas à resolução do problema em causa, e não se choram constantemente só para se mostrar que se está muito preocupado com a situação.

Eu reciclo, vou de transportes para o trabalho quando podia ir de carro (que era mais rápido, e não tenho problemas de estacionamento nem parquímetros), mas também grito pelos golos de Portugal e vejo cada jogo religiosamente. Qual é o problema?