sábado, abril 11, 2009

Fim de noite


São neste momento 3:34 da manhã e está no fim uma noite das más.

O dia não tinha sido propriamente bom, tive uma dor de cabeça que me acompanhou desde que acordei. Uma hora antes de ir trabalhar telefonei a dizer que não ia, mas depois de me pedirem encarecidamente que fosse para tapar um buraco que havia no trabalho eu fiz o sacrifício e fui.

Era meia-noite e finalmente acabou o turno, telefonei ao emigrante que está por cá mas depois de 3 toques a chamada falhava. Decidi ir para casa.

Entrar na estação dos Anjos e sair já na linha amarela, no Lumiar, um caminho que já fiz centenas de vezes, mas o resto do caminho hoje foi diferente. 50 metros depois de sair do metro sou abordado por 2 homens, "onde é que é o metro?" respondo que fica mesmo ali a 50 metros e quando olho de novo para eles vejo uma navalha na mão de um. Apercebi-me do que se estava a aproximar e tentei de forma rápida começar a andar e afastar-me mas fui logo agarrado, ameaçado com a faca e quando não acedi de imediato ao pedido de "o guito" recebi um murro na cara com a mão que tinha a faca. Resultado, um pequeno corte num lábio. Resolvi entregar o dinheiro que tinha que não passava de uns trocos que não ultrapassavam os 5 euros. "o telemóvel" tirei do bolso e dei, é um telemóvel da gama mais baixa que há, não fiquei preocupado.
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"multibanco"... aqui a coisa começou a ferver. O multibanco representa todo o pouco dinheiro que tenho, duas contas, dois cartões... Fod@-se...
Num exercício quase instintivo abri a carteira, tirei o multibanco que também é cartão de estudante, o que tem menos dinheiro neste momento,e entreguei-o, apesar de o cartão do BPI estar mesmo ali à vista desviei a atenção à base da conversa de quem pede que não levantem o dinheiro porque como estudante que sou o dinheiro é coisa que não abunda.

"Código?"... Pensei em mentir, mas só ia adiar a coisa, e ao dar conta do erro a ira podia recair sobre mim. Disse o pin certo, repeti-o.

Cartão na mão toca de ir ao MB ali a 150 metros, fiquei com o amigo da navalha que me agarrava como se não houvesse amanhã e que tremia como varas verdes. Não tenho a certeza do tempo que passou, mas pareceram-me qualquer coisa como 10 minutos. Neste tempo peguei num lenço e limpei o sangue do lábio, olhei para o gajo que estava comigo com atenção, se tivesse que um dia o identificar ia recordar-me de alguma coisa. Casaco de cabedal castanho, barba estilizada fininha com o resto da barba meio mal feita, dois sinais um em cada bochecha calças de ganga azuis e sapatos castanhos. Pensei mais que uma vez em partir para violência ou tentar fugir, mas ele estava realmente nervoso, já me tinha agredido e assim como assim não há dinheiro que valha um risco tão grande de levar uma facada. Deixei-me estar.
Durante este tempo passou muita gente por nós, fingindo não ver, um gajo com ar metrossexual passou por nós também mas ia sem atenção, e por incrível que pareça o gajo que me estava a agarrar chamou por ele, suponho que com vista no telemóvel que ele trazia na mão. O palerma vinha tão aluado que fez menção de se aproximar, e eu fiz um sinal leve com a cabeça de que NÃO, NÃO te aproximes. O sinal foi claramente percebido e ele nem parou, mas o cabrão ingrato nem à polícia telefonou conforme foi minha esperança ao vê-lo afastar-se em segurança.

Quando o nervosinho que estava comigo começou a tripar pela demora do cúmplice e me puxou em direcção ao MB o outro lá apareceu a correr. Devolveu-me o cartão (que simpático). Viraram costas e bazaram.

O que fazer? Decidi que no momento o que de mais racional havia a fazer era procurar a polícia, mas para tal tinha que vir para casa já que não tinha telemóvel e não há cabines telefónicas por perto. Cheguei a casa, procurei o número da esquadra e telefonei. Enquanto esperava pelos agentes bloqueei o cartão do telemóvel e verifiquei online que a quantia levantada foi de 280 euros, tudo o que estava na conta bancária. CABRÕES.

5 minutos depois chegou a polícia, estava eu com gelo no lábio. Após uns segundos para perceberem o que se passou perguntaram-me se podia sair e ir com eles dar uma volta procurar os gajos.
"Vou pois..."
Na verdade a esperança era nula, quando estas merdas acontecem a polícia faz o que pode mas na a realidade é que nunca se encontra nada.
Descrevi o melhor que pude os dois homens, e depois de 5 minutos no carros e 2 voltas pela zona viramos para um semi-descampado e ao aparecerem duas figuras que tinham acabado de virar a esquina os dois polícias que iam à frente disseram "são eles...". Apesar de eles não terem dito aquelas palavras em tom de pergunta eu só soltei um "Yah".

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Recuperei 250 dos 280 euros que me tinham roubado, os trocos e o telemóvel. A queixa foi feita, e por uma simples questão técnica eles não podem ficar detidos a aguardar apresentação ao juiz. Terça-feira tenho que me apresentar a um médico para ficar registado o corte no lábio para posterior prova no processo.


Fod@-se... que noite.


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