domingo, junho 18, 2017

Em brasa e sobre brasas

A tragédia abateu-se hoje sobre a zona de Pedrogão. Apesar de a sociedade mais "pública" ter de forma quase unânime tomado como apanágio a moderação as rede sociais claramente não se dão a esse tipo de considerações. E se por um lado podem levar de forma célere informações a quem precisa delas e gestos de solidariedade importantes por outro lado leva a uma quantidade parva de apontar de dedo e argumentar sobre algo que não se conhece.

As medidas de prevenção de incêndios em Portugal são suficientes? Claro que não. 
Pode-se sempre melhorar qualquer coisa? Pode.

Mas para quem como eu já viveu incêndios grandes de muito perto há coisas que não se conseguem fazer, por muito que se queira e tente. A evacuação de populações nem sempre é possível, porque na maioria das vezes é a própria população que não o quer fazer. Está no seu direito, mas não se pode depois apontar o dedo a quem os tentou demover de defender o que infelizmente está perdido.
Cortar estradas só é efectivo até certo ponto. Quem vive na zona a afectada sabe caminhos que usa quando não pode usar os que lhe estão cortados, quem já viveu perto de situações destas sabe como é... é triste mas é verdade.

Não há cortes de estradas, intervenções de bombeiros ou sejam que meios forem que parem um incêndio de grandes dimensões. Não é possível e a rapidez nunca chega.
Já estive dentro de um carro com o meus pais rodeado de chamas, e apesar de ser um miúdo na altura ficou-me cravado na memória o medo que se sente. E quase me consigo ouvir ainda a dizer ao meu pai, eu de lágrimas nos olhos, para acelerar e não parar, e consigo ainda sentir o medo dos meus pais que nervosos diziam que estava tudo bem, para eu não ter medo.
O mais irónico da situação é que ficámos rodeados por chamas porque fomos enviados para um desvio porque a estrada onde íamos também estava rodeada por fogo. Não havia solução certa, não havia solução perfeita, mas naquele dia nós tivemos a sorte de conseguir, ainda que por pouco, fugir ao inferno que nos chegou a rodear. Mas não passou e um golpe de sorte, que podia perfeitamente ter corrido mal, e a culpa não era certamente de quem cortou a estrada, porque quem o faz o faz porque acha que é a melhor solução, e se não o faz é porque não pode.

A prevenção tem que existir, e ser mais e melhor. O combate aos incêndios podem ser melhores e mais rápidos mas apontar os dedos sem pensar um pouco é apenas cruel e não ajuda absolutamente nada.
Convém que quando se maldiz um bombeiro voluntário porque não apareceu quando era preciso, se lembre que existe um palavra que faz toda a diferença. "Voluntário".

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